Festival Músicas do Mundo celebra 25 anos com diversidade cultural e espírito de resistência
Escrito por Redacção em 17 de Julho de 2025
Entre os dias 18 e 26 de julho, a costa alentejana volta a vibrar com o Festival Músicas do Mundo (FMM), que celebra este ano a sua 25.ª edição com palcos em Porto Covo e Sines. Mais do que um evento musical, o festival propõe-se como um espaço de encontros, escuta atenta e construção de pontes culturais, num momento em que o próprio mundo atravessa incertezas políticas e sociais.
“O FMM é para quem sabe escutar o outro — não apenas a si mesmo”, afirma Carlos Seixas, diretor artístico e de produção, em conversa com a agência Lusa. Segundo ele, o festival preserva, desde o início, uma essência marcada pela diversidade, pelo acolhimento e pela celebração das diferentes culturas do mundo.
Uma programação que atravessa fronteiras
Durante os nove dias do festival — três em Porto Covo e os restantes em Sines —, 49 concertos trarão ao público sons de 34 países, com estreias de artistas vindos da Bolívia, Gabão, Guatemala, Jordânia, Indonésia (Java) e da Somalilândia, um território que busca reconhecimento internacional.
Entre os nomes mais sonantes da edição estão:
Bonga (Angola),
Youssou N’Dour (Senegal),
Julieta Venegas (México),
Rokia Traoré (Mali),
Orchestra Baobab (Senegal),
The Mystery of the Bulgarian Voices (Bulgária).
Haverá também um concerto-tributo a Max Romeo, artista jamaicano inicialmente programado, mas falecido em abril deste ano.
O festival mantém o seu princípio de não ter “cabeças de cartaz”, o que reforça a proposta de descoberta musical e de equilíbrio entre nomes consagrados e novos talentos.
A lusofonia em destaque
A presença da música de expressão portuguesa volta a ser significativa no FMM. Do Brasil, sobem ao palco Nação Zumbi, Bia Ferreira, Luca Argel e Gabriele Leite; de Moçambique, Roberto Chitsonzo; de Cabo Verde, Fábio Ramos, Fidjus Codé Di Dona e Fidju Kitxora; da Guiné-Bissau, o coletivo Umafricana; e de Angola, o já referido Bonga.
Portugal estará representado por Ana Lua Caiano, Lena d’Água, Capicua, Miss Universo e Bateu Matou.
A programação musical recordará também a festa das independências das ex-colónias portuguesas, reforçando o caráter político e histórico que atravessa o festival.
Mais que música: debates, arte e pensamento
Além dos concertos, o FMM inclui uma rica agenda de atividades paralelas: exposições, feiras do livro, oficinas infantis, sessões de contos, ateliês e debates. Um dos destaques será a exposição “Balumuka! – Narrativa poética da liberação… ou ainda, Rebelião Poética Kaluanda”, com curadoria de Kiluanji Kia Henda e André Cunha, que reúne obras de artistas contemporâneos angolanos como Luaty Beirão e Zezé Gamboa.
Os debates, considerados “fundamentais” por Seixas, abordarão temas como imigração, libertação e independência — questões que atravessam tanto a história como a atualidade de muitos dos países representados no festival.
Um festival público e resistente
Organizado exclusivamente pela Câmara Municipal de Sines, o FMM é um exemplo raro de um festival internacional de grande dimensão gerido pelo poder local. Apesar de contar com algum apoio de patrocinadores, a sua sustentabilidade depende essencialmente do investimento municipal.
Com eleições autárquicas marcadas para outubro e a impossibilidade de recandidatura do atual presidente, o futuro do FMM não está garantido. Ainda assim, Carlos Seixas reconhece: “O festival sempre viveu sob algum risco, desde que nasceu. Mas tem resistido e continua a ser uma fonte de felicidade e liberdade — para quem o vive e para a comunidade que o acolhe”.
Vencedor do EFFE Award 2017 (da European Festivals Association) e distinguido com 14 Iberian Festival Awards entre 2016 e 2024, o FMM continua a afirmar-se como uma referência de qualidade, inovação e compromisso social.
Com o lema “Música com espírito de aventura”, o FMM 2025 promete mais uma edição memorável — feita de sons, encontros e escutas que cruzam fronteiras.