O Funaná: Da Proibição ao Símbolo da Liberdade em Cabo Verde

Escrito por em 25 de Agosto de 2025

Introdução

O funaná é muito mais do que um género musical. É um símbolo de resistência, identidade e liberdade do povo cabo-verdiano. Hoje, reconhecido em todo o mundo, este ritmo vibrante nasceu no interior de Santiago, marcado pelo ferrinho e pela gaita, e foi durante décadas alvo de repressão. A história do funaná é a história da luta de um povo que transformou a música em voz contra o silêncio.

As Origens do Funaná

O funaná surgiu nas comunidades rurais da ilha de Santiago, principalmente em contextos populares e festivos. Com raízes africanas e influências europeias, os seus principais instrumentos são:

  • Ferrinho: uma barra de ferro friccionada com uma faca, que dita o ritmo.

  • Gaita di fóle: semelhante ao acordeão, introduzido pelos colonos europeus, mas adaptado ao estilo local.

A fusão destes elementos criou um ritmo acelerado, contagiante e profundamente ligado ao corpo e à dança.

A Proibição Colonial

Durante o período colonial, o funaná foi considerado “selvagem” e associado à resistência cultural africana. As autoridades portuguesas viam no ritmo uma ameaça, pois transmitia mensagens de liberdade e reforçava a identidade cabo-verdiana.

Por isso, a sua prática foi proibida em espaços públicos, sendo relegada às festas rurais, longe da vigilância do poder. Mas mesmo na clandestinidade, o funaná manteve-se vivo como forma de expressão popular.

O Funaná Pós-Independência

Com a independência de Cabo Verde em 1975, o funaná ganhou novo fôlego. Grupos como Bulimundo, liderado por Carlos Alberto Évora (Katchás), foram responsáveis por trazer o ritmo para os palcos urbanos e para as rádios, modernizando o género sem perder a sua essência.

O funaná passou então de ritmo marginalizado a símbolo nacional, celebrando a liberdade recém-conquistada.

O Funaná na Atualidade

Hoje, o funaná é um dos géneros mais populares dentro e fora de Cabo Verde. Artistas como Finaçon, Zeca di Nha Reinalda, Ferro Gaita e, mais recentemente, jovens músicos, continuam a reinventar o género, mantendo viva a sua energia contagiante.

Em festivais internacionais, o funaná é apresentado como marca da identidade cabo-verdiana, sendo reconhecido como uma das expressões musicais mais autênticas do Atlântico.

Conclusão

A história do funaná mostra como a música pode ser mais do que entretenimento: pode ser resistência, identidade e liberdade. De ritmo proibido nas roças de Santiago, o funaná transformou-se em orgulho nacional e cartão de visita de Cabo Verde para o mundo.

 


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